sábado, 24 de setembro de 2011

O POVOAMENTO DE PELOTAS (26)*



A. F. Monquelat
V. Marcolla

AS DATAS SESMARIAS NA SERRA DOS TAPES E SÃO LOURENÇO DO SUL

Simão Soares da Silva veio para o Continente de São Pedro em 1771.
Em 11 de fevereiro de 1775, a Junta da Administração e Arrecadação da Fazenda Real do Continente do Rio Grande, o nomeou para Comissário das Carretas e Cavalhada Real, no Quartel da Fronteira do Norte, com o ordenado anual de duzentos mil réis, gozando de todas as honras, privilégios e isenções, que eram concedidas aos oficiais e vendeiros da Fazenda Real, e o direito de, caso tivesse de sair em alguma diligência do Real Serviço, usar das cavalgaduras que lhe fosse necessário.
Em 10 de outubro de 1783, Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara nomeou o capitão da Cavalaria Auxiliar, Simão Soares da Silva, para o emprego das carretas, boiada e cavalhada, para servir na “próxima Demarcação dos Domínios da América Meridional, pertencente à primeira Partida Privativa da minha inspecção, vencendo o ordenado que me parecer arbitrar-lhe, segundo o trabalho que tiver no importante desempenho das suas sobreditas obrigações; sujeitando-lhe ao dito fim, todos os capatazes, peões, serventes e outras quaisquer pessoas de que venha necessitar para o ajudarem, os quais lhe obedecerão sem a menor dificuldade, em tudo o que tocar ao Real Serviço [...]”.
Aos seis de janeiro de 1775, o Comandante Geral das Tropas do Sul, Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, certificava que o capitão da Companhia da Cavalaria Auxiliar, Simão Soares da Silva, em todas as diligências de que o havia encarregado, relativas ao Real Serviço de Sua Majestade, deu inteira e louvável satisfação, mostrando-se sempre com zelo, grande aplicação e pronta obediência, com eficaz execução nas ordens e missões que lhe foram incumbidas. Motivo pelo qual, se faz digno e merecedor de vencimentos “em que sua Majestade o atender e remunerar”.
No ano de 1791, em requerimento enviado ao Marechal Governador, o capitão Simão Soares da Silva, “atualmente empregado no exercício de Comissário das Carruagens e Cavalgaduras da presente Demarcação de Limites, [diz] que: tendo ele, Suplicante, exercido o mesmo emprego na Campanha próxima passada, debaixo das ordens do Excelentíssimo Senhor General, o defunto, João Henrique Bohn, e tendo-lhe Sua Excelência, ao final da expressada Campanha, feito a honra de passar-lhe uma honrosa atestação, esta se extraviou; de modo que não lhe tem sido possível encontrá-la mais entre outros papéis que possui; e, sendo a mesma Atestação escrita pelo Tenente-coronel da Cavalaria Ligeira, Manoel Marques de Souza, que então servia como Ajudante das Ordens, do sobredito Senhor, pretende o Suplicante, para bem de sua justiça, que o dito Tenente-coronel, lhe ateste a verdade do referido; e, quando não o possa atestar com as formais palavras do mencionado, e tendo em vista que ele não o poderá fazer sem despacho de V. Sª., peço-lhe com o maior respeito e submissão, seja servido ordenar ao sobredito Tenente-coronel, que lhe passe a requerida Atestação; pois, se não a obtiver, lhe seguirá um irreparável prejuízo. E receberá mercê”.
Atendido pelo Marechal Governador, em 26 de novembro de 1791, obteve Simão, em 17 de fevereiro de 1792, uma nova Atestação firmada pelo Tenente-coronel da Cavalaria da Legião da Guarnição do Continente do Rio Grande de São Pedro, Manoel Marques de Souza.
Tanto as nomeações quanto as Atestações, que transcrevemos em parte, foram anexadas ao pedido feito em 1805, por ele, Simão Soares da Silva, “que tem a honra de servir a V. A. Real, no posto de Capitão do Distrito do Norte, do Regimento da Cavalaria Miliciana da Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul, de que lhe é chefe, Antônio Rodrigues Barbosa [éreo de Bernardo José Pereira], há quase trinta e cinco anos, como consta do documento de nº 1; servindo com toda atividade e obediência, não só no serviço ordinário, como em diligências extraordinárias, como se verifica do documento de nº 2; servindo igualmente de Comissário do Exército daquela Capitania, no tempo em que foi restaurada parte da mesma, por nomeação da Junta da Fazenda, debaixo da qual serviu até que ali se fizesse a paz, depois da qual passou a exercer o mesmo emprego de Comissário da Divisão de Limites, por nomeação do primeiro Comissário da mesma, o Governador daquela Capitania, em que gastou mais de 12 anos transitando por aqueles lugares desertos e arriscados, portando-se sempre com a maior exação, como tudo consta dos documentos de nºs 3, 4 e 5; tendo igualmente merecido o louvor e atenção do General João Henrique Bohn, comandante em chefe do Exército que restaurou a Vila do Rio Grande, e as demais partes daquela Capitania, como consta do documento de nº 6, tendo além dos pré ditos serviços, e daqueles que ordinariamente lhe compete em razão do dito posto, que apesar de seu Regimento ser Miliciano, se conserva atualmente quase em serviço.
Fez o Suplicante, na última guerra, grandes serviços a V. A. R., arriscando-se por várias vezes com sua vida e, tendo sido encarregado do Comando da defesa da Península, que fica entre o Mar Oceano e a Lagoa Mirim, pôde arrasar o Forte do Chuy fazendo prisioneiros, parte daquela guarnição, além de tomar uma grande porção de armamento, cavalgaduras e gado vacum, apesar de ali estarem as forças inimigas, em quádruplo, como é sabido e público na mesma Capitania, e isto pode confirmar o Governador.
Estes relevantes serviços e préstimos animam o Suplicante a pedir a V. A. R., que pela sua Real Grandeza, seja servido, em atenção a todo o exposto, fazer-lhe a mercê do posto de Tenente-coronel do mesmo Regimento de Milícias, que se acha vago, ou como melhor for do Real agrado de V. A. Real.
Pede, que tomando em consideração tão justos motivos, seja servido prover ao Suplicante em qualquer dos ditos postos, como efetivo, agregado ou graduado, como melhor parecer de Justiça. E. Real Mercê”.

Continua...


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Nota: Os documentos transcritos foram atualizados e paleografados pelos autores.
* Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã, no dia 25 de setembro de 2011.

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