AS DATAS E SESMARIAS NA SERRA DOS TAPES E SÃO
LOURENÇO DO SUL
A. F. Monquelat
V. Marcolla
Quando o capitão Francisco Barreto Pereira Pinto
requereu sua Carta de Sesmaria disse, em sua petição, que as
terras, por ele requeridas, estavam devolutas e situadas “no meio
dos povoadores Manoel Gonçalves Meireles, Manoel Meireles Lima e
Francisco Fernandes”. Pois bem, as terras de Manoel Gonçalves
Meireles já foram vistas neste trabalho, faltando-nos ver as de
Manoel Meireles Lima e as de Francisco Fernandes. Quanto às deste
último, não conseguimos encontrar documento que as localizasse;
quanto a Manoel Meireles Lima, encontramos tão somente o que
passamos a transcrever através das palavras do próprio requerente:
“Diz Manoel de Meireles Lima, morador no Continente do Rio Grande
de São Pedro, que ele, Suplicante, requereu ao Capitão General e
Governador do Rio de Janeiro, para lhe dar, de Sesmaria, três léguas
de terra de comprido, e uma de largo, no sítio e paragem do Arroio
Goatamy [?] e o Arroio Çapato [Sapato?], por se acharem campos
devolutos, e não aproveitados na forma das Reais Ordens de V.
Majestade, e porque o Suplicante as têm beneficiado e cultivado na
forma das Ordens da mesma Senhora: Pede a V. Majestade, servido de
mandar se lhe passe Alvará de Confirmação. E. R. Mercê”.
A Sesmaria a qual Manoel Meireles Lima quer, e pede
Confirmação, lhe fora concedida, por Carta, aos 5 dias do mês de
fevereiro do ano de 1782, mandada passar por Luiz de Vasconcelos e
Souza, Vice-rei do Estado do Brasil, registrada no Livro 32, “que
serve de Registro geral nessa Secretaria de Estado, a fls. 40. Rio de
Janeiro, 7 de fevereiro de 1782”.
A confirmação da Carta foi dada em Lisboa aos 17 dias
do mês de setembro do ano de 1792.
Não conseguimos apurar a localização do “Arroio
Goatemy”; quanto ao Arroio “Çapato”, acreditamos possa ter
sido erro de grafia por parte do requerente Manoel Meireles Lima.
As aventuras e desventuras do Coronel Simão
Soares da Silva
O coronel Simão Soares da Silva, lindeiro de João
Cardoso de Gusmão, quando Capitão da Cavalaria Auxiliar, sediada no
Estreito, possuía uma Sesmaria no distrito do Serro Pelado; e nesta,
uma fazenda denominada São Francisco de Borges.
O pedido do capitão Simão Soares da Silva, ao
Brigadeiro Governador, ocorreu no ano de 1779. Depois de medida pelo
tenente Antônio Ignacio Roiz Cordova, e cumpridas as formalidades da
época, obteve carta e confirmação de sua posse.
Poucos anos depois, Simão Soares da Silva, em novo
requerimento ao Brigadeiro Governador, pediu a este que o tenente de
infantaria Antônio Ignacio Roiz Cordova, lhe passasse certidão da
medição que havia feito na Estância de São Francisco de Borges,
da qual, era senhor e possuidor.
Cordova, cumprindo ordens do Governador,
atendeu o pedido feito.
Na Carta de Sesmaria, concedida por Dom José de Castro,
Conde de Rezende, em 29 de outubro de 1793, constava que Simão
Soares da Silva, capitão da cavalaria auxiliar do Estreito, no Rio
Grande, tinha povoado uns campos, que lhe haviam sido concedidos pelo
Governador do Continente e, eram sitos “no caminho que daquela Vila
vai para o Rio Pardo, com uma légua de frente e três de fundo,
junto do Rio Piratini, que partem com Balthazar José e Joaquim
Antônio por um lado, e por outro, com José Garcia, Salvador Bueno e
Luis Marques, o que tudo mostrava pelos despachos e mais documentos
que apresentara [...]”.
Não contente com a Certidão da medição feita por
Cordova, tratou Simão Soares da Silva, após receber Carta de
Sesmaria, de enviar novo requerimento ao Vice-rei, o Conde de
Rezende, informando que há 14 anos obtivera, do Marechal Governador
do Continente, uma concessão de um campo “sito entre os galhos
setentrionais do Piratini menor, fazendo fundos o mesmo Rio; frente a
um Cerrito, e dividindo-se pelo Oeste com o Arroio do Tenente; e pelo
Leste, com outra vertente; que ambos baixam da Coxilha do Cerro
Pelado; e que logo o tratou de povoar e nele se estabelecer e que,
depois de o medir, achou, com efeito, que incluía as três léguas
de frente e uma de fundo, ou o equivalente a vinte e sete mil braças,
e que de tudo já teve a honra de levar ao conhecimento de V. Exª.,
no requerimento enviado para legitimar o mencionado campo, com o
valioso título da presente Sesmaria, que V. Exª. foi servido mandar
passar; porém, como se acha estar esta reduzida, provavelmente por
engano, à extensão tão somente de uma légua, que tanto valem duas
de comprido, sendo meia légua de largo, e nisto recebe o Suplicante
um grave prejuízo, sendo factível que os seus vizinhos, ou outros
quaisquer, logo que saibam do encurtamento que teve os ditos campos
do Suplicante, os pretendam obter por Sesmaria; portanto pede a V.
Exª., seja servido mandar passar uma segunda Carta de Sesmaria
[...]; e de extensão de três léguas de fundo e uma de testada, ou
de frente [...]”.
O pedido de Simão teve por primeiro despacho, o
“Informe o Sr. Marechal de Campo, Governador do Continente. Rio, 23
de janeiro de 1794”.
Ao governador Sebastião Xavier da Veiga
Cabral da Câmara, pareceu muito justo, que Sua Excelência, o Conde
de Rezende, fosse servido ordenar que, ao invés da Sesmaria que o
capitão Simão Soares da Silva diz ser de meia légua de frente, e
duas de fundo, “se lhe passe outra, que inclua as mencionadas três
léguas de comprido, e uma de largo. [...]. Porto Alegre, 12 de julho
de 1794”.
Ao que, o Vice-rei ordenou que: “Passe nova Carta de
Sesmaria, na conformidade da resposta do Marechal Governador. Rio, 24
de fevereiro de 1795. [Rubrica]”.
Continua...
____________________________
* Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã, no dia 18 de setembro de 2011.
Nota:
Os documentos transcritos foram atualizados e paleografados pelos
autores.
Um comentário:
Olá Marcola.
Este Arroio Goatemy fica junto á divisa Canguçu-São Lourenço do Sul sendo afluente do Arroio "Sapato". Há uma região ali chamada hoje de Iguatemi, mas a denominação é do final do século 18, quando havia no local uma guarda portuguesa. O soldados haviam servido na fronteira São Paulo-Mato Grosso, no Iguatemi, e acharam a guarda gaúcha em situação tão inóspita e isolada como aquela, por isso deram-lhe o mesmo nome.
O nome original do Arroio "Sapato" seria Arroio da Sapata,referinndo-se a uma pequena construção militar feita no local; acabou derivando do feminino para o masculino em razão do povo ignorar a terminologia militar. Segundo o Dicionnário Geral da Lingoa Portugueza de Algibeira, "sapata" é a "parte do alicerce, que cresce sobre a terra, e tem mais grossura que a parede que accresce sobre a sapata"
Postar um comentário