sábado, 20 de agosto de 2011

O POVOAMENTO DE PELOTAS (23)*



A. F. Monquelat
V. Marcolla


AS DATAS E SESMARIAS NA SERRA DOS TAPES E SÃO LOURENÇO DO SUL

2º DIA DA MEDIÇÃO (19.11.1811)

Aos [...], e se mediram seiscentas e cincoenta braças até um lugar onde o mesmo Rio borda o Campo, e continuando o mesmo rumo, se mediram mil e quinhentas e vinte e cinco braças até uma tapera velha. E, ao mesmo rumo de Leste, se mediram mais cincoenta braças, até onde se entranha no mesmo Rio, o Arroio que divide os campos dos Autores com o de Bernardo José Pereira, hoje do coronel Simão Soares da Silva [...], até uma mangueira grande, que está situada na margem do dito Arroio [...]; e, sendo visto e ouvido seu requerimento pelo dito Juiz, e informado este, ali fez o Paço Geral Público, onde se fazia dividir os campos dos Autores, com os do coronel Simão Soares [...].

3º DIA DA MEDIÇÃO (20.11.1811)

Aos vinte dias do mês de novembro [...]; e vinte e dois graus Sudoeste, se mediram trezentas e vinte braças; e, vinte dois graus Sudoeste, se mediram mil e vinte e quatro braças, até uma picada de mato, no fim do potreiro da boiada, onde finda a divisão do Arroio, e principia a se dividir os campos dos Autores, na forma das confrontações da Sesmaria concedida ao falecido bacharel Firmiano José da Silva Falcão [...], que para conhecimento de seu terreno, e por finalizado ali o Arroio da divisa do seu campo, e confina com o Ereo Melchior Cardoso Osório lhe mandasse ali levantar um marco [...], até o passo da mesma Sanga, onde o Juiz mandou parar a medição, por causa da chuva [...].

4º DIA DA MEDIÇÃO

Aos vinte e um dias do mês [...], e sentando o Piloto da agulha, no Paço da Sanga, soltou rumo pelo ângulo de cincoenta e três graus Sudoeste, por ele se mediram [...], sendo este até umas Figueiras, que estavam na margem de uma restinga de mato [...], até o peão ou marco, fincado no Paço Geral do dito Arroio Evaristo, onde se principiou a Medição, e deu por encerrada; a qual, ele, Juiz, mandou o Piloto reduzir a Plano ou Mapa, o terreno medido, configurando-o conforme suas bases, e dela fizesse a devida declaração [...].

TERMO DE DECLARAÇÃO DO PILOTO MAURICIO IGNACIO DA SILVEIRA

Aos vinte e dois dias do mês de novembro [...], nesta Estância denominada de Santa Izabel [...], e presente o Piloto do Juízo, Maurício Ignacio da Silveira, por este foi dito que os campos, dos sobreditos Autores, tinham a área superficial, segundo a base e pontos tomados, constantes destes Autos, cincoenta e três centos, trezentas e vinte mil braças, que atendendo à sua figura, como se via do Mapa, que em borrão apresentava, correspondia aproximadamente a cinco léguas e três quartos da mesma, quadrados, incorporando-se no total delas, meia légua de matos, na extensão da Sesmaria denominada Santa Izabel; e se dividem, pelo Norte, com o Rio Camaquã; pelo Sul, com a Serra; pelo Leste, com o Arroio que nasce da Serra ao Sul, e que vai se encontrar no mesmo Rio Camaquã; confinando com os Ereos Simão Soares da Silva, coronel de milícias, e Melchior Cardoso Osório; e, pelo Oeste, com o Arroio chamado do Evaristo, que nasce da Serra e vai fazer barra no Rio Camaquã, de que é confinante, o Ereo João Batista Meireles [...].

A SENTENÇA

Vistos estes Autos de Medição e demarcação de campos e restingas de mato, dentro dos mesmos; visto o requerimento dos Autores, medidos e demarcados, em que foram citados os Ereos vizinhos, e não houve quem se opusesse, a hei por boa, firme e valiosa, para o que lhe interponho a minha Autoridade e Direito Judicial, e se dará Sentença à parte, pelas vias que a pedir, para obter a graça de confirmação; e paguem os Autores as custas da Medição e Autos. Rio Grande, quatro de dezembro de mil oitocentos e onze. Afonso Pereira Chaves”.

A CONFIRMAÇÃO DE CARTA DE SESMARIA A JOÃO CARDOSO DE GUSMÃO

E, por fim, “A João Cardoso de Gusmão, se há de passar Carta de Confirmação de Sesmaria. Rio, 18 de setembro de 1812. Bernardo José de Souza Lobato”.

A SESMARIA DE BERNARDO JOSÉ PEREIRA

Vimos, através dos Autos de Medição e Demarcação das terras de João Cardoso de Gusmão, que um dos confrontantes era Bernardo José Pereira, e que este, posteriormente, a vendeu ao coronel Simão Soares da Silva.
Bem, Bernardo José Pereira, quando requereu sua Sesmaria, o fez por volta do ano de 1796 e era, na época, capitão de infantaria das Ordenanças do Continente do Rio Grande.
Quando a requereu, disse ser senhor e possuidor de uma fazenda de campos, há quinze anos; portanto, desde 1781; tal data faz com que Bernardo José Pereira esteja entre os primeiros povoadores de São Lourenço do Sul.
O capitão Bernardo José Pereira disse estar nas terras situadas no outro lado do Camaquã, nas quais tinha “dois mil animais vacuns e cavalares, escravos [grifo nosso], casas de vivenda, pomares, roças e lavouras”. Vejam, mais uma vez, e pelas palavras de um outro sesmeiro da região, o uso da terra para atividades agro-pastoris, bem como o emprego de mão de obra escrava em tais atividades. Nossa intenção, nesta ressalva, tem como propósito reforçar a afirmação feita de que Pelotas deve muito mais às atividades agro-pastoris em seus primórdios, do que à indústria saladeiril. Esta última, acreditamos, é consequência da primeira, principalmente a pecuária e a mão de obra escrava utilizada nas fazendas e estâncias, que se estabeleceram nas terras concedidas, não somente aos sesmeiros de Pelotas; mas, por toda a região circunvizinha.
Voltando ao capitão Pereira, informou também, este, que os campos que tinha povoado, partiam pelo Norte, com um Arroio que os dividiam da fazenda de João Cardoso de Gusmão; e, pelo Sul, com um pântano que havia entre a fazenda dele e uma das fazendas do capitão-mor Manoel Bento da Rocha, denominada do Boqueirão, onde havia uma vala, com porteira na estrada de divisa das duas fazendas por se acharem duas lombas altas de campo, de um e outra parte das fazendas, de cujas águas vertentes se forma o pântano, que ia da frente aos fundos da sua casa de moradia, na distância de meia légua, pouco mais ou menos; e, desta, indo em direção à direita, se formava o Arroio, que corre rumo Norte, a encontrar outro Arroio, “que divide o Suplicante, da fazenda do Dr. Firmiano José da Silva Falcão, cujo Arroio vai divisando com o Suplicante, até encontrar-se com as divisas de João Cardoso de Gusmão, pelo Leste; e, a Nordeste, se divide com a fazenda de Antônio José Pereira, que fica nos fundos da fazenda do Suplicante; pelo Sueste, se divide com o capitão Antônio Roiz Barbosa, por um valo e porteira, cujo lugar nasce das caídas do campo do Suplicante, umas vertentes de água, que se vão espalhar em uns pantanais na divisa da fazenda de Antônio José Pereira, com o dito capitão Antônio Roiz Barbosa. E terão, estes campos, três léguas de comprido e uma de largo [...]”.
Quatro anos depois, cumpridas todas as formalidades, Bernardo José Pereira recebe o “Passe Carta na forma das Reais Ordens. Rio, 6 de agosto de 1800. [Rubrica]”.


Continua...
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Nota: Os documentos transcritos foram atualizados e paleografados pelos autores.
* Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã, no dia 21 de agosto de 2011.

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